Lendas recontadas

Lendas recontadas escritas por Gilberto Martins

4 de junho de 2016

Saci pererê

Desculpem meus caros alunos, mas me atrasei alguns minutos, porque precisei passar na diretoria. A diretora mandou-me chamar para conversar — disse professora Vera, entrando apressadamente na sala de aula e colocando sobre a mesa algumas cadernetas de chamada, uma caixa de giz e o apagador.
— E o que ela queria, professora? A senhora não vai ser mandada embora da escola não, vai? — indagou Maria, uma meninazinha miúda, sentada na primeira carteira junto à mesa. — Eu gosto muito da senhora.
4 de junho de 2016

Boto cor de rosa

Deixe-me ver — pediu o fotógrafo, saindo do banheiro ainda enxugando a cabeça depois de quase meia hora de banho. — Desculpe a modéstia, mas seu amigo aqui sabe muito como tirar fotos, não sabe?

— Não deveria ter dito nada. É só um elogiozinho e você já fica todo cheio de si.

— Não é preciso nada disto. Sei do meu talento com esta coisa! — exclamou Marcos com a máquina fotográfica na mão e exibindo um sorriso que lhe era característico.

— Devo me render. Estas realmente ficaram, diríamos assim, acima da média.
4 de junho de 2016

Curupira

Nossa história começa em um dia de muita chuva.
Nós, que vivemos em cidades, muitas vezes nos aborrecemos com a chuva, pois ela nos impede de fazer um monte de coisas. Ela provoca engarrafamentos, alaga as ruas, inunda, infelizmente, as casas de muita gente, nos impede de ir a certos lugares. Mas, para quem vive nas regiões distantes no interior do Brasil, nas zonas rurais, ela tem uma função importantíssima: ela é responsável pela vida de muita gente. Sem ela não há colheita, sem colheita, não há alimentos e assim por diante.
4 de junho de 2016

Mula sem cabeça

Para falar a verdade, jamais havia ido a uma fazenda. O que conhecia, deste mundo, tinha visto pela televisão, através de algumas novelas ou de filme americanos. Para mim, aquilo era um universo de fantasia, definitivamente, não existia de verdade. Nunca imaginei um mundo sem energia elétrica, sem computadores, sem televisão.
Meu avô, que sempre vinha à cidade nos visitar, passava horas contando histórias de sua época de menino, de suas aventuras em companhia dos irmãos e primos. Curiosamente, como bom narrador que era, sempre prendia a minha atenção e de alguns amigos que, com freqüência, estavam lá
4 de junho de 2016

Negrinho do pastoreio

A tarde era uma das mais frias daquele mês de agosto naquela região do Rio Grande do Sul. A tropa, apesar de acostumada a longas caminhadas e ao rigor do tempo, demonstravam já sinais claros de cansaço. Mesmo assim, os animais seguiam valentes em direção norte. Lá adiante, no horizonte aonde o céu vem se encontrar com a terra, o sol caminhava lento em direção ao outro lado do mundo. O entardecer era um dos momentos mais frios do dia. Mesmo estropiadas pelas semanas de viagem, a passos lentos, como se arrastassem estrada afora, as dezenas de mulas mostravam-se resignadas. Era preciso chegar. Mas qual seriam o seu destino, e o destino daquelas mercadorias que levavam em seus lombos?